Categoria: Sem categoria Data: 22 de março de 2021
Como definir os territórios pessoais em uma moradia compartilhada por três gerações?

“Morar com os pais idosos geralmente justifica-se quando há a necessidade de cuidado e mais atenção, seja mudando para a residência deles ou para a casa dos filhos. Porém, ficou evidente no período da pandemia que muitas famílias compartilham espaços para racionalizar custos, o que obriga a que todos se ajustem a essa situação, em especial dispensando o desejo de privacidade e até de algum conforto. Nesse contexto afloram lideranças e conflitos, características que podem levar à dificuldade nos relacionamentos e tornar a convivência insustentável.

No filme My Happy Family (Geórgia, 2017), uma família comum vive sob o mesmo teto, a casa original dos avós que, abrigando a filha casada, foi ajustando suas rotinas com a presença dos netos. Esses, já adultos, têm também suas próprias vidas: a neta casada continua morando com eles e, mesmo depois de separada, acolhe a esposa do irmão, que igualmente se muda para lá  (https://www.netflix.com/br/title/80171247). A filha, mãe dos jovens, sente-se infeliz e resolve morar só, o que os outros têm dificuldade de aceitar.

Esposa e mãe, uma mulher de 52 anos choca a sua tradicional família georgiana ao anunciar que vai sair de casa para morar sozinha.

Na decisão de sair, ela é questionada pelo marido, que se diz dedicado, embora guarde um segredo que é descoberto depois. O pai, muito idoso, aparentemente não interfere e quase passa despercebido. A mãe, a dona original da casa, dá as ordens e a questiona, afirmando que sempre criou os netos e manteve a alimentação de todos em dia. Mas a filha está decidida e encontra um pequeno apartamento onde tem silêncio para ouvir suas músicas e trabalhar também em casa, pois é professora. Além disso, cozinha o que tem vontade e organiza seu tempo como prefere, mesmo atendendo os muitos chamados da família.

A lição com a qual podemos refletir é de que não basta termos um quarto privativo, se houver muito barulho nos outros aposentos. Mesas compartilhadas também reúnem discussões e comentários, nem sempre adequados no momento em que a refeição serve também para alimentar a alma. Hábitos incômodos podem ser repreendidos muitas vezes, mas fomenta também os conflitos e cria tensões, até entre os que não estão diretamente ligados ao fato em si. A convivência, mesmo havendo amor em família, pode cansar e exigir distanciamento que, se não é possível fisicamente, pelo menos deve permitir o isolamento sem que se obrigue à constante atenção.

Neste período em que a pandemia obrigou muitas famílias ao distanciamento social, ficou evidente a existência das que vivem sob o mesmo teto e tinham seus momentos de fôlego quando saiam para atividades fora de casa. O home office obrigatório denunciou a dificuldade de trabalhar enquanto filhos pequenos exigem atenção, e os idosos podem demonstrar carência afetiva quando a ansiedade do momento os faz mais exigentes. Que nos sirva de lição a necessidade de delimitar territórios, mesmo com todos juntos compartilhando espaços, por mais amor que justifique essa proximidade.” (Blog SerModular)

Fonte: https://sermodular.com.br/2021/02/05/como-definir-os-territorios-pessoais-em-uma-moradia-compartilhada-por-tres-geracoes/ (acessado em 22/03/2021)

Autora: Profª Maria Luisa Trindade Bestetti

Photo by Samanta Barba Alcalá

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